quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Nem tudo tem piada

Hoje, durante o almoço, tive um diálogo produtivo com o meu amigalhaço (e primo) Chico.
Mais um dos nossos diálogos de homens "diferentes"... (Isto tá a ficar rabeta... Vou mudar o discurso).
Portanto, dizia eu que estive com o Chico a ter um diálogo másculo e intelectual sobre o estado da nação.
Apenas para contextualizar, convém dizer que somos ambos Portistas; ambos de direita, distinguindo-nos o grau de conservadorismo relativamente a diferentes aspectos; ambos com formação em multimédia (se bem que eu devo confessar que me encostei à sombra dos empregos que me foram aparecendo e o Chico tem continuado os estudos de forma brilhante); ambos desempregados.
O diálogo foi longo e abrangente. Desde o futebol, até ás mulheres, passando pela crise mundial que se atravessa. Mas o mais forte tema foi o estado da Nação.
Não vou massacrar ninguém com as baboseiras que trocamos enquanto esperavamos pelas barrigas grelhadas no Snack Bar Descobrimentos. Mas posso dizer que passei o dia a pensar naquilo e há uma triste conclusão que não me sai da cabeça: Portugal é Lisboa. De vez em quando também é o Porto. Porque o resto... Bem, o resto é um pedaço de terra de ninguém que se tem que atravessar para chegar a Espanha...

Onde é que há investimento e emprego?
Onde é que fica o grosso dos financiamentos da UE?
Onde é que estão as infraestruturas que proporcionam qualidade de vida a todos, nomeadamente idosos e doentes?
Em Portugal, claro! Mas não em Vila Real, não em Bragança, não na Guarda. No Porto ou em Lisboa.

Vou falar do exemplo que conheço. Estive a trabalhar em Vila Real durante quase um ano e sei o que é aquela terra quando a Universidade está de férias. No dia que aquela Universidade fechar ou vier abaixo (dado o estado de certas partes do Campus, não sei o que vai acontecer primeiro), aquela cidade desaparece. O mesmo se pode dizer de Miranda do Douro, onde o pânico se instalou quando se equacionou a hipótese de fechar o pólo e o mesmo se aplica a Bragança.
Para lá do IP4 (aquela estrada onde morre muita gente, mas onde mal se vê a Polícia de Trânsito) há estradas onde não se pode andar, terras isoladas e povoações entregues à sua sorte.
Turismo Rural? Ok... Mas e apoios para isso? E lá por se ter o "azar" de se ter nascido numa aldeia com 12 habitantes é-se obrigado a fazer viagens de 2 horas ou mais para ir para a escola ou para o hospital? É-se obrigado a nascer ao km X do IP4? E a morrer se for o caso...?

Eu sei que é altura de fazer contenção de despesas. Não estou a pedir que se invente uma solução. Só estou a deixar uma nota para que se lembrem que aqui, onde muita gente é analfabeta, não se tem emprego nem escolas e se respira ar puro, também é Portugal.

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